Cobertura vacinal contra a gripe é de apenas 20,21% em Goiás e especialistas temem aumento de casos graves e sobrecarga na rede hospitalar
A baixa adesão à vacina contra a influenza em Goiás acende um alerta para o risco de agravamento da doença e impacto direto nos atendimentos hospitalares. No Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia – Iris Rezende Machado (HMAP), unidade da Secretaria Municipal de Saúde construída e mantida pela prefeitura e gerida pelo Einstein, já há um registro de internações que poderiam ter sido evitadas com a imunização.
No HMAP, um levantamento feito pelo Núcleo Hospitalar de Epidemiologia mostra que, nos últimos seis meses, 23 moradores de Aparecida de Goiânia foram internados com diagnóstico de influenza. Entre eles, 14 (60%) fazem parte do público prioritário com recomendação formal para a vacinação. No entanto, apenas um havia tomado a dose da vacina, conforme verificação no sistema do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
De acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde, apenas 20,21% das pessoas dos grupos prioritários – crianças menores de seis anos, grávidas, puérperas e idosos com mais de 60 anos – receberam a vacina contra a gripe em 2025. No ano passado, a cobertura vacinal foi de 48%, número ainda distante da meta de 95% estabelecida pelo Ministério da Saúde. A baixa adesão já traz reflexos nos serviços de saúde.
“A situação é muito preocupante. A vacina está disponível gratuitamente para os grupos prioritários, mas a adesão tem sido extremamente baixa. Estamos vendo casos graves em pacientes que poderiam estar protegidos. A influenza pode levar à internação e até à morte, especialmente entre crianças pequenas e idosos. O mais alarmante é saber que muitos desses casos são evitáveis”, alerta Priscilla Swadda, infectologista do HMAP.
A influenza pode evoluir rapidamente para complicações severas, como pneumonia viral ou bacteriana, insuficiência respiratória, necessidade de internação em UTI e óbito. Pacientes com doenças crônicas — como asma, diabetes, DPOC e cardiopatias — também estão mais suscetíveis a complicações. Em crianças pequenas e idosos, a evolução da doença tende a ser ainda mais rápida e grave.
Impacto na rede hospitalar
Além do risco individual, a internação por influenza representa um impacto direto na estrutura hospitalar. Em muitos casos, o paciente precisa de isolamento respiratório, o que exige a interdição de leitos e redirecionamento de recursos. “É uma doença que, além de grave, é altamente contagiosa. A internação de um único paciente pode demandar quarto exclusivo, mais equipamentos de proteção, alocação específica de equipe e maior vigilância”, explica a médica Priscilla Swadda. Segundo a infectologista, o aumento dos casos evitáveis, que afeta diretamente a capacidade de resposta da rede de saúde, poderia ser minimizado com maior adesão à vacina.
Desde 2024, a vacina contra a gripe passou a integrar o Calendário Nacional de Vacinação, ficando disponível ao longo de todo o ano para os públicos prioritários, e não apenas durante campanhas sazonais. Ainda assim, a procura ainda é baixa. Profissionais de saúde reforçam que a vacina é segura, eficaz e continua sendo a principal forma de prevenção contra a doença.
A imunização contra a influenza precisa ser feita todos os anos porque o vírus sofre mutações frequentes. A cada temporada, uma nova versão da vacina é produzida com base nas cepas que estão circulando no mundo. Por isso, manter a vacinação em dia é fundamental para garantir proteção contra as variantes mais recentes do vírus.
Sobre o HMAP
O Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia – Iris Rezende Machado (HMAP) foi inaugurado em dezembro de 2018 e é o maior hospital do Estado feito por uma prefeitura. Administrado pelo Einstein desde junho de 2022, foi construído numa área superior a 17 mil metros quadrados, onde atua com mais de 1.100 colaboradores para o atendimento de casos de alta complexidade, incluindo hemodinâmica e cirurgia bariátrica, além de várias especialidades cirúrgicas e diagnósticas. A estrutura contempla 10 salas de cirurgia e 235 leitos operacionais, sendo 10 de UTI pediátrica, 39 de UTI adulto, 31 de enfermaria pediátrica, e 155 leitos de clínica médica/cirúrgica.
Trata-se da primeira operação de hospital público feita pelo Einstein fora da cidade de São Paulo. Nos primeiros seis meses de gestão, as filas de UTI da unidade foram reduzidas consideravelmente e a capacidade de atendimento dos leitos, dobrada. Já as longas filas de espera para cirurgias eletivas foram diminuídas em menos de um ano, feito alcançado graças a iniciativas como mutirões cirúrgicos, que priorizaram demandas urgentes. Nos primeiros seis meses de gestão Einstein, o tempo de permanência dos pacientes no hospital também foi reduzido de 9,5 para 5 dias. Em relação à mortalidade, em junho de 2022 a taxa era de 15,33% e, seis meses depois, de 3,6%.