As atividades são realizadas ao longo desta semana para dar visibilidade, acolher, ouvir gestantes e puérperas e mostrar que é preciso buscar ajuda
A Maternidade Marlene Teixeira (MMT) encerra nesta sexta-feira, 29 de setembro, uma mobilização interna sobre o Setembro Amarelo, campanha de prevenção ao suicídio realizada nacionalmente desde 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e o Centro de Valorização da Vida (CVV).
As atividades realizadas durante a semana foram direcionadas para as pacientes internadas, as que buscam atendimento de urgência e aquelas que foram consultar no ambulatório ou fazer exames, além de seus acompanhantes.
As ações são organizadas pela comissão de Humanização da MMT e envolvem todos os trabalhadores da unidade, desde a equipe multiprofissional, com profissionais de medicina, enfermagem, psicologia e serviço social, dentre outros, bem como o pessoal da Vigilância Epidemiológica, do Controle de Infecção, da Segurança do Paciente e todos os gestores da Maternidade.
A iniciativa consiste em momentos de escuta e acolhimento, distribuição de material educativo, orientações, palestras de conscientização, lanches coletivos, apresentações musicais, além de conversas sobre as dificuldades e angústias que as mulheres enfrentam durante a gestação e após o parto.
Visão superficial e julgamento social
As psicólogas da MMT envolvidas no evento, Luciana Wovst, Renata Oliveira e Gilvânia Soares estão acompanhando os trabalhos. Luciana destaca que “o suicídio é uma das principais causas de morte materna da gestação até o primeiro ano de vida do bebê, um dado alarmante e pouco conhecido. Então estamos sensibilizando nossas pacientes, a comunidade e os profissionais sobre como esse período, na vida das mulheres, as deixa mais vulneráveis e isso requer muita atenção. Infelizmente, o olhar da sociedade para a gestação é muito idealizado e romantizado com noções e frases tais como “a mulher nasceu para ser mãe” e “esse é o momento mais feliz da vida dela”. Se a mulher não está bem, ela se sente ainda mais isolada e não sabe ou teme pedir ajuda”.
A psicóloga ainda reforça o peso do julgamento social sobre as mães em sofrimento mental: “Muitas ouvem que “são pessoas ruins, que falharam, que não gostam do filho ou não queriam tê-lo”. Luciana Wovst frisa que a maternidade pode trazer, sim, muitas alegrias para a mulher, “mas não se pode esquecer que é também um momento de grande demanda física e emocional, alterações bioquímicas e privação do sono. Ela precisa mais é de um abraço e da rede de apoio, que é fundamental para perceber que ela não está bem e pode ajudar na prevenção ao suicídio e outros males. É indispensável ajudar, dar um mínimo de descanso e dignidade para ela e deixar claro que ela não precisa dar conta de tudo. O que ela precisa é estar bem para poder dar o melhor de si para ela mesma e o bebê”.
Visibilidade e voz às mulheres
Já a enfermeira Ana Carolina Rosa Calvão relata que “estamos reforçando nosso trabalho rotineiro de identificar fatores de risco e sintomas de depressão pós-parto, se alguma paciente está suscetível ao suicídio e enfrentando situações como violência doméstica, ausência e omissão do pai do bebê e falta de rede de apoio. Muitas vezes, após o parto, o foco das pessoas ao redor dela se torna o recém-nascido e aí a mãe não consegue externar seus sentimentos. Por isso, um dos nossos objetivos também é dar visibilidade e voz para essas mulheres e mostrar que elas devem procurar ajuda conosco e na rede de Saúde Mental do município”.
Mobilização indispensável para quem sofre
Arieny Moreira, mãe de dois filhos de 5 e 4 anos, estava na MMT acompanhando uma colega em trabalho de parto e participou das atividades. Ela lembrou o que enfrentou durante a gravidez e depois: “Muitos dizem que é fácil a gravidez, mas não é, geralmente. As pessoas levam apenas para o lado positivo, mas cada mãe sabe das dificuldades do dia-a-dia, as dores, a solidão e os desafios da amamentação, que é uma experiência complicada. Por isso que eventos como esse nos ajudam, e muito, e precisam ser reconhecidos e repetidos sempre.”
Já Lorena Marques, mãe de dois filhos de 7 e 2 anos, estava ouvindo a palestra na recepção da MMT e contou que teve depressão severa e na última gestação e chegou a pensar em suicídio. “Esses momentos de conversas e apoio podem chegar na hora certa para alguém que esteja sofrendo em silêncio e sentindo um abandono total, uma sensação de não ter lugar no mundo. Eu consegui melhorar com a ajuda de duas psicólogas daqui e da minha igreja. Estava em negação, não aceitava minha vida e só quem conhece o fundo do poço sabe como é importante ter alguém pra te ouvir e ajudar”.
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