Aparecida de Goiânia, 10 de abril de 2015 – “Desde 10 anos de idade comecei a usar droga e entrei no mundo do crime. Uso só maconha. Nunca usei crack. Entrei no mundo do crime porque eu não tinha nem mãe e nem pai. Acho que tô (sic) melhorando pelo jeito que eu tava (sic). Eu tava bem pior. Tem pessoas que dá carinho pra mim lá dentro né (Caps ADI 24 horas), sabe conversar com a gente, não maltrata a gente hora nenhuma. Só isso. É o jeito (sair dessa vida), senão um dia você morre, um dia você vai preso”.
O relato, pausado, mas ao mesmo tempo forte e direto, é de R. J. M., 14 anos, acolhido há um mês pelo Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas Infantil (Caps ADI) de Aparecida de Goiânia, que compõe a rede de prevenção e assistência à dependentes químicos do município. A unidade assiste hoje 460 crianças, em várias modalidades de atendimento. No caso de R. J. M., além de passar o dia todo na unidade, também dorme, já que não tem mais vínculo familiar.
Após o período de desintoxicação, o menino, apoiado pela equipe multidisciplinar do Caps, terá um longo caminho pela frente em busca de sua recuperação e ressocialização. O retorno para a escola, a busca por um trabalho, a aceitação da sociedade. Esse percurso e as formas de apoiar jovens como R. J. M. nessa luta, estão sendo discutidos hoje, 10, durante todo o dia, no Fórum da região central de Aparecida de Goiânia, durante o seminário “Aparecida Correndo pela Vida contra o Crack”. O objetivo é provocar a reflexão dos órgãos públicos e entidades ligados ao tema, e da população de Aparecida.
“Estamos montando uma rede de proteção com o apoio do Ministério Público, do Poder Judiciário, de todas as áreas da prefeitura, todos integrados para dar um suporte às nossas crianças e adolescentes. Nossa cidade já possui Caps 24 horas, casas de acolhimento e unidades móveis. Agora vamos montar mais de 30 escolinhas de futebol para tirar crianças das ruas por meio do esporte. Mas ainda há muito trabalho a fazer, porque são poucos os recursos né? Aparecida é uma cidade muito populosa, mas é uma cidade que está saindo na frente nessa organização”, explanou o prefeito Maguito Vilela.
A juíza de Direito do Juizado da Infância e Juventude, Stefane Fiuza Cançado Machado, explicou que o envolvimento de crianças e jovens com as drogas tem início na desestrutura familiar. “Daí a importância do judiciário se envolver nessa rede de proteção, com trabalhos relacionados à área da infância e juventude, como o reconhecimento da paternidade, a Paternidade Responsável. Já o poder público dar condições para essas mães, que uma vez desestruturada e mãe solteira, possa ir trabalhar e deixar seu filho seguro numa creche; aí vem a questão de ter uma escola de qualidade, de tempo integral; o PETI, programas que possam atender no contra turno”, enumerou a juíza.
Nesse sentido, ela aponta que Aparecida saiu na frente. Mas levanta questões que ainda precisam ser revistas. “Em Aparecida temos CAPs Álcool e Droga Infantil (ADI), o primeiro do Brasil 24 horas; a Casa da Acolhida onde esses jovens podem ficar até seis meses; os PETIs. Mas precisamos melhorar o sistema para que eles possam também ser conduzidos para a escola, para o mercado de trabalho, mesmo estando acolhidos. Precisamos ver a questão da internação compulsória, que ainda não existe aqui no município porque o Ministério da Saúde é contra. Mas em caso de risco extremo, é necessária”, apontou.
A juíza também ressalta que o apoio da sociedade é pequeno. “A sociedade e o empresariado têm que pensar em não discriminar. Dar oportunidade. Porque eles (crianças e jovens) são influenciados tanto pro bem quanto para o mal. Vários jovens que tiveram oportunidade de voltar à escola, de trabalhar de forma legal, de ter sua auto estima referendada, largaram a droga simplesmente porque estão com responsabilidades e valorizados. Então, esse cuidado não é só do poder público. É da sociedade, é do empresário, da comunidade, do Judiciário sim, do MP, do sistema de Justiça em geral, dos conselhos da Criança e Adolescente, tutelares, prefeitos, governador. Houve uma omissão de mais de 20 anos do crack. O poder público e a sociedade não tinham se atentado. Agora, em Aparecida estamos mudando isso”, ponderou Stefane.
A coordenadora ADI de Aparecida de Goiânia, Cláudia Gualberto, esclarece que atualmente 460 crianças e adolescentes, como R. J. M., recebem algum tipo de assistência no município. Inicialmente eles passam por um processo de desintoxicação e seguem com o atendimento psicossocial, como forma de viabilizar o retorno deles à escola e inserí-los em espaços onde tenham a possibilidade de realmente serem crianças. O acompanhamento das família também é imprescindível, já que na maioria apresentam uma situação familiar complicada.
“Se o jovem está desassistido pela família, ele vai para uma unidade de acolhimento infantil, até que a gente consiga resgatar essa família e encontrar alguém que possa assumí-lo realmente. Alguns ficam em acolhimento noturno, onde passam o dia e a noite; outros no intensivo, que é uma modalidade em que passam apenas o dia. É muito usada para os adolescentes que perderam o vínculo com a escola, com a família. Então esses permanecem no Caps durante o dia, em atividades, e à noite eles vão para casa para dormir. É uma tentativa de reforçar esse vínculo, de fazer com que a família receba novamente o adolescente”, esclareceu Cláudia.
“Além dessas duas modalidades, vários adolescentes já estão inseridos, já estão na escola, trabalhando ou em outras atividades. Esses passam pelos Caps em grupos de apoio, para poder conseguir dar sequência à vida sem envolvimento com a droga e com o crime. Temos parcerias com diversas instituições que nos dão suporte para o encaminhamento desses adolescentes. Agora, é um caminho que não é um caminho fácil. O adolescente em dado momento desiste, a gente tem que resgatar. Um garoto como o R. J. M., com 14 anos ainda, tem uma longa estrada com o Caps. E a gente vai trabalhando sempre com alternativas ao que o adolescente coloca pra gente como desejo, ao que ele identifica que quer naquele momento da vida”, reiterou Cláudia.
Mobilização contra as drogas se estende durante todo o mês
O Seminário “Aparecida Correndo pela Vida contra o Crack” termina hoje, 10, às 17 horas. Mas ele integra as ações preparatórias para a Corrida contra o Crack criada pela administração municipal, e que já está em sua 5ª edição. Por isso, ao longo de todo o mês de abril, a prefeitura e seus parceiros continuam realizando blitz educativas, palestras e concursos de redação nas escolas da rede municipal. A programação da campanha se encerra no dia 10 de maio, com a corrida. Toda a população pode participar. As instruções para quem quiser se inscrever estão disponíveis no site www.correndopelavida.net.
Hoje, o evento foi aberto pelo prefeito Maguito Vilela e pela secretária de Saúde de Aparecida, Vânia Cristina Rodrigues Oliveira, e pela coordenadora de Saúde Mental de Aparecida e especialista em Saúde Mental e Dependência Química, Paula Cândido da Silva Dias. Participaram ainda o secretário de Habitação de Aparecida e idealizador da ‘Corrida contra o Crack’, Júlio Lemos; o secretário de Educação, Domingos Pereira; o assessor Técnico do Ministério da Saúde, Daniel Daltin; a juíza de Direito do Juizado da Infância e Juventude, Stefane Fiuza Cançado Machado; o promotor de Justiça de Goiás, Mário Henrique Caixeta; a professora da UFG, especialista em Saúde Mental, Camila Caixeta; familiares e jovens dependentes assistidos pela rede de proteção do município.
ESTRUTURA – Desde que aderiu ao Programa de Enfrentamento ao Crack do Governo Federal, em 2013, Aparecida de Goiânia já conta com quatro CAPs 24 horas; uma Unidade de Acolhimento Infantil, também 24 horas; e duas equipes de Consultório na Rua. Outros dois CAPs e uma Unidade de Acolhimento tiveram obras iniciadas este ano. Ao todo, cerca de 300 profissionais, apenas da Secretaria de Saúde atuam nessas unidades. Mas o atendimento envolve ainda parceiros de outras áreas da administração, como Educação, Assistência Social, Indústria e Comércio, Esportes, Cultura e Turismo; sistema judiciário; Ministério Público; polícias Civil e Militar.
Rua Gervásio Pinheiro, APM Residencial Solar Central Park
CEP: 74.968-500
Telefone: (62) 3545-5800 / (62) 3545-5801
Horário de Funcionamento: 08h as 11h30 - 13h as 17h30
Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação
Diretoria deTecnologia da Informação (DTI)