Cidade tem a maior estratégia municipal de sequenciamento genômico no Brasil. Ação de Aparecida, que já fez 81% dos sequenciamentos genômicos realizados em Goiás, visa identificar precocemente as variantes para aprimorar as medidas de enfrentamento à pandemia e salvar vidas
Iniciado no final de abril deste ano e já consolidado como rotina na Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o Programa de Sequenciamento Genômico da Prefeitura de Aparecida de Goiânia é a maior estratégia de vigilância genômica já realizada em uma cidade brasileira. É o que aponta a plataforma internacional GISAID, entidade com banco de dados sobre genomas de vírus. Até o momento, o município já executou 656 sequenciamentos, técnica que permite identificar a informação genética contida nas amostras dos exames RT-PCR realizados maciçamente na cidade. “Com essa iniciativa, estamos aptos a identificar precocemente as variantes do novo coronavírus que circulam em Aparecida, inclusive a indiana, muito temida atualmente. Assim, podemos realizar rapidamente medidas específicas para proteger a população”, afirma o prefeito Gustavo Mendanha.
O secretário de Saúde Alessandro Magalhães informa que em Aparecida já foram feitos, até a tarde do dia 25 de maio, 279.589 testes RT-PCR para detecção da Covid-19, exame considerado internacionalmente como padrão ouro para esse tipo de diagnóstico, e acrescenta: “Os testes já realizados correspondem a mais de 45% da população de Aparecida (590.146 habitantes, segundo o IBGE) e têm contribuído decisivamente para salvar vidas, reduzir agravamentos de casos positivos, respaldar as decisões do Comitê Municipal de Enfrentamento à Covid-19 e monitorar a situação real da pandemia no município, que é referência não apenas em testagem ampla, mas também em monitoramento dos infectados. O sequenciamento genômico é mais uma estratégia para aprimorar o enfrentamento à pandemia e salvar vidas”.
Banco de dados fundamental
Nesse sentido, para possibilitar o sequenciamento genômico, Alessandro Magalhães esclarece que todas as amostras de material coletadas para a realização dos RT-PCR’s que têm resultado positivo para a covid-19 são armazenadas: “Este é um excelente banco de dados que, se bem aproveitado e estudado, tem o potencial de nos ajudar a entender melhor a dinâmica de evolução e dispersão do vírus. Por isso investimos na contratação de parceiros que dispusessem de tecnologia e equipe treinada para a realização do sequenciamento”.
Análise de reinfecções
A diretora de Avaliação de Políticas de Saúde da SMS, Érika Lopes, responsável pelo Programa de Sequenciamento Genômico, relata que, no Brasil, dentre os casos comprovados de reinfecção pelo vírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19, seis foram identificados em Aparecida de Goiânia por meio do trabalho de sequenciamento genômico. As análises dos casos de reinfecção são encaminhadas à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que já atestou três casos de Aparecida no último 23 da maio. Estes referem-se a pacientes que realizaram o exame RT-PCR e testaram positivo para a Covid-19 em duas ocasiões diferentes, dentro de um intervalo de mais de 90 dias. Dois deles foram reinfectados pela linhagem P.1, conhecida como variante de Manaus.
Érika Lopes destaca que, até o momento, a Prefeitura já realizou, em parceria com o laboratório contratado, 656 sequenciamentos genômicos de amostras de pacientes que testaram positivo para a doença, seguindo três critérios: material de pessoas com suspeita de reinfecção, isto é, com dois RT-PCR positivos em um intervalo superior a 90 dias, e com carga viral suficiente para realizar o processamento; material de pacientes com menos de 60 anos e sem comorbidades que ficaram internados na UTI do Hospital Municipal de Aparecida (Hmap); material de pacientes aleatórios, agrupados por semana epidemiológica, e também de pacientes totalmente imunizados. Segundo dados da GISAID, Aparecida já fez 81% dos sequenciamentos realizados em Goiás e 6% de todos feitos no País.
Resultados das análises
“Enquanto nos materiais analisados de 2020 não identificamos nenhuma variante considerada de preocupação, nas amostras deste ano, 76,6 % foram das linhagens P.1 e 2,5 % da B.1.1.7., originária no Reino Unido. Além disso, por exemplo, de 22 pacientes analisados com menos de 60 anos e sem comorbidades que desenvolveram formas graves e precisaram de internação em UTI, 19 foram infectados por essas duas variantes, que juntas foram responsáveis pela contaminação de 86,3% dos pacientes desse grupo estudado”, ressalta Érika Lopes.
Evolução e dispersão do vírus
A gestora ainda reforça que “é preciso esclarecer que enquanto o Sars-CoV-2 estiver circulando, infectando e reinfectando pessoas, ele sofre mutações. Esse é um processo natural da replicação do vírus. Algumas dessas mutações podem garantir um maior poder de adaptação, gerando novas linhagens mais infectantes, letais ou com escape imunológico. Por isso, é importante identificar e monitorar as variantes em circulação. A reinfecção não é um evento raro, mas com a baixa escala de sequenciamento genético realizado no Brasil, pouco ainda se sabe. Porém, com os dados em mãos, podemos entender melhor a dinâmica de evolução e dispersão do vírus”.
Monitoramento essencial
A virologista e pesquisadora Paola Cristina Resende, que trabalha na rede de sequenciamento genômico da Fiocruz e do Ministério da Saúde, salienta que o coronavírus evolui de forma mais rápida e com alterações genéticas que permitem essa evolução. “É extremamente importante monitorar isso para que entendamos o que está circulando no País e identifiquemos algumas linhagens ou variantes que poderiam estar escapando da nossa resposta imune, ganhando alguma vantagem evolutiva e se dispersando mais facilmente pela população”.
Contribuição de Aparecida
Paola, que também atuou como cientista da University College London, na Inglaterra, ainda enfatiza: “Monitoramos de perto todas essas variantes e iniciativas como essa que Aparecida de Goiânia tem feito, de investir no sequenciamento, são fundamentais. A contribuição de Aparecida tem sido muito importante nessa vigilância genômica nacional”. Nesse sentido, a virologista afirma, categoricamente, que o monitoramento genômico constante com a avaliação laboratorial das amostras clínicas, como é feito em Aparecida, é indispensável para se ter “uma análise global das características das linhagens já detectadas do novo coronavírus”.
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